Editoria: Vininha F. Carvalho 08/12/2015
Foram necessários 25 anos para que a arara-azul saísse da Lista de Espécies da Fauna Brasileira Ameaçadas de Extinção, publicada pelo Ministério do Meio Ambiente. Após triplicar a população, o Instituto Arara Azul e a Fundação Toyota do Brasil comemoram a recuperação e a contínua reprodução da espécie ano a ano.
De agosto a novembro de 2015 foram postos 70 ovos de arara-azul, em 151 ninhos monitorados. A equipe de biólogos espera que até o fim do período reprodutivo 30 filhotes voem.
O número é inferior ao de 2014 em que nasceram 52 filhotes e desses 34 voaram. Mas a bióloga responsável pelo projeto e presidente do Instituto Arara Azul, Neiva Guedes, explica que neste ano o fenômeno climático, El Niño, está afetando os animais que ficam sujeitos às intempéries.
“Com o El Niño há aumento de chuvas mais concentradas e isso leva a inundação de ninhos e perda de ovos e filhotes. Mas só após o período reprodutivo poderemos avaliar os resultados em relação aos anos anteriores”, afirma.
Os resultados positivos são fruto de 26 anos de trabalho em estudos de biologia básica, reprodução, comportamento, habitat, manejo e educação ambiental para a conservação da espécie, que no fim da década de 1980 estava ameaçada de extinção, e chegou a somar apenas 1.500 indivíduos no Pantanal.
Hoje, com a importante contribuição do Projeto Arara Azul, especialistas estimam mais de 5.000 indivíduos no Pantanal, na área que inclui os estados de Mato Grosso do Sul, Mato Grosso e Bolívia.
Apesar da conquista, os esforços continuam. A espécie ainda permanece na lista vermelha das espécies ameaçadas, elaborada pela IUCN (União Internacional para a Conservação da Natureza, na sigla em inglês), pois seu alto grau de vulnerabilidade exige cuidados especiais para a sua conservação na natureza.
“Os estudos não podem parar. Para realmente mantermos a conservação é preciso continuar estudando as relações biológicas, as interações ecológicas e a dinâmica do meio em que vivemos” lembra Neiva Guedes, que é também professora doutora do Programa de Pós-Graduação em Meio Ambiente e Desenvolvimento Regional da Uniderp.
No total, a iniciativa monitora aproximadamente 3.000 aves, que vivem em 615 ninhos, cadastrados por 57 fazendas, situadas em Miranda, Aquidauana e Bonito (MS) e na região de Barão de Melgaço (MT).
Boa parte dos ninhos está localizada em regiões de difícil acesso, por isso a importância das picapes Hilux com tração 4X4, cedidas pela Fundação Toyota do Brasil. Os veículos permitem às equipes de biólogos transportarem suprimentos e todos os equipamentos necessários à realização dos trabalhos de campo.
“O resultado ano a ano desse projeto reafirma o princípio de nos aliarmos a empreendimentos socioambientais sérios, respeitados e, acima de tudo, plenamente comprometidos com a preservação do meio ambiente e com a comunidade local”, explica Ricardo Bastos, presidente da Fundação Toyota do Brasil.
- Curiosidades da arara-azul:
- As araras pertencem à mesma família dos papagaios, periquitos e maracanãs, chamados Psitacídeos;
- A arara-azul é uma ave monogâmica. Ou seja, forma um par/casal constante até a morte de um dos indivíduos;
- A espécie não tem dimorfismo sexual externo. Só é possível diferir o gênero a partir da análise de uma amostra de sangue ou laparoscopia;
- No Pantanal, as araras-azuis alimentam-se da castanha de duas palmeiras, o Acuri e a Bocaiúva;
- 95% dos ninhos são encontrados em uma única espécie arbórea, o Manduvi;
- Após o nascimento, o filhote permanece sob os cuidados dos pais por mais de 100 dias, até que esteja pronto para voar;
- A arara-azul tem baixa taxa reprodutiva. Nasce um filhote a cada dois anos;
- As principais ameaças da espécie na década de 1990: descaracterização do habitat, tráfico ilegal e caça para uso em artesanatos e adornos indígenas.