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Plano de ação protegerá répteis e anfíbios que vivem em ilhas marinhas

Editoria: Vininha F. Carvalho 01/12/2009

O Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Répteis e Anfíbios (RAN), do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), deverá lançar, provavelmente em março do ano que vem, o Plano Nacional de Ação para proteger a herpetofauna insular (répteis e anfíbios que habitam ilhas).

O plano será aplicado na Estação Ecológica (Esec) de Tupinambás e na Área de Relevante Interesse Ecológico (Arie) Queimada Grande, as duas únicas unidades de conservação no País que abrigam espécies desse grupo criticamente ameaçadas de extinção.O passo decisivo para a confecção do plano foi dado na semana passada com a realização, na sede nacional do RAN, em Goiânia (GO), de workshop sobre o assunto.

Os pesquisadores identificaram as ações e os parceiros necessários para a empreitada. Participaram representantes da Diretoria de Biodiversidade do ICMBio, da Sociedade em Defesa do Litoral Brasileiro, do Instituto Butantan, da Universidade Federal de São Paulo, da Esec Tupinambás, da Arie Queimada Grande e Pequena e da Marinha, além dos técnicos do RAN.

A necessidade de elaboração de um plano de ação para espécies de répteis e de anfíbios insulares já havia sido apontada em julho deste ano durante os debates do IV Fórum do RAN, realizado paralelamente ao IV Congresso Brasileiro de Herpetologia, em Pirenópolis (GO).

Na atual lista nacional de espécies da fauna ameaçada de extinção, publicada no ano passado com dados de 2003, constam três espécies de serpentes - Bothrops alcatraz, endêmica na Ilha de Alcatrazes e Bothrops insulares e Dipsas albifrons cavalheiroi, da Ilha de Queimada Grande - , uma de anfíbio anuro (Scinax alcatraz) e duas de tartarugas marinhas - tartaruga verde (Chelonia mydas) e tartaruga-de-pente (Eretmochelys imbricata) - que habitam a Esec Tupinambás (um conjunto de ilhas, ilhotas, lajes e parcéis no Oceano Atlântico, no litoral norte de São Paulo) e na Arie Queimada Grande (que abriga as ilhas de Queimada Grande e Queimada Pequena, no litoral sul de São Paulo).

Endêmicas nessas ilhas, todas as espécies terrestres mencionadas estão no maior grau de ameaça. "Ou seja, criticamente em perigo de extinção", garante a analista Yeda Bataus. Embora não seja possível uma comparação entre a quantidade de cobras da Ilha Queimada Grande com as da Ilha de Alcatrazes, sabe-se que a Ilha de Queimada Grande, possivelmente, seja a ilha com a maior densidade de cobras do mundo. Contudo, são as mais ameaçadas de extinção também.

As diretrizes aprovadas no workshop servirão para o RAN concluir, provavelmente, em março a elaboração do plano, buscando medidas para a conservação dessas espécies. Logo que estiver pronto, o ICMBio vai dar ampla divulgação ao plano de ação da herpetofauna insular, sobretudo, entre a comunidade científica, por meio da Sociedade Brasileira de Herpetologia.

SENSIBILIZAÇÃO:

A analista ambiental Yeda Bataus, do RAN, disse que o ICMBio tem facilidade de encontrar parceiros para iniciar uma ação em favor da conservação da herpetofauna insular. O difícil, segundo ela, é sensibilizar a população para a necessidade desse trabalho com essas espécies de animais. As serpentes, por exemplo, por motivos óbvios, não têm o menor carisma entre a grande maioria da população.

"Apesar disso, como qualquer outro animal, elas são importantes para o equilíbrio de um ecossistema, pois fazem parte de uma cadeia alimentar. E quando ocorre o desequilíbrio nessa cadeia, ele afetará também as espécies carismáticas", explica a analista.

Ela alerta para a importância de se preservar os répteis e anfíbios. "O veneno das serpentes, por exemplo, é alvo de grande interesse comercial para produção de medicamento, como, por exemplo, remédios para controle de pressão arterial, anticoagulante e outros", informa a analista, ao lembrar que esse é um dos fatores que estimulam a biopirataria em todo o mundo.

"Por causa da importância desses animais para a indústria farmacêutica e para a saúde humana, muitas espécies são traficadas para o exterior favorecendo os grandes laboratórios (desenvolvimento de medicamentos) e também para colecionadores", diz.

O chefe-substituto da estação ecológica, Gerhard Kempkes, ressalta que há um conjunto de fatores que levaram essas espécies moradoras da Esec Tupinambás e da Arie Queimada Grande ao estado crítico de ameaça de extinção. Ele destaca, por exemplo, o fato delas serem endêmicas das ilhas e, por isso, disporem de pouco espaço para encontrar alimento e para a reprodução.

Além disso, há intervenções antrópicas (feitas pelo homem), como os exercícios de tiro realizados periodicamente pela Marinha na Ilha de Alcatrazes. Segundo ele, a Marinha cumpre vários procedimentos de segurança para tentar minimizar o impacto desses exercícios na fauna e na flora, tanto terrestres quanto marinhos.

Em 2005, após um incêndio ocorrido no local, quando foi multada em cerca de R$ 1 milhão e teve as atividades embargadas pelo Ibama, a Marinha adotou novas regras para preservação das espécies animais e vegetais da ilha.

"Foi a partir do termo de compromisso assinado entre o Ibama/ICMBio e o Ministério da Defesa que a Marinha passou a tomar cuidados especiais durante os exercícios de tiro", informa o chefe-substituto da Esec.

Ele cita outros fatos para mostrar como é importante a elaboração do plano de ação nacional para proteção dessas espécies: "Duas espécies de anfíbios (a Scinax alcatraz e a nova espécie Cycloramphus faustoi) foram encontradas em bromélias situadas bem próximo do local em que a Marinha pratica tiro e onde já ocorreram incêndios na vegetação, o que as torna ainda mais ameaçadas de extinção", revela Kempkes.

PESQUISAS:

A partir de 1987, quando foi criada a Estação Ecológica (Esec) Tupinambás, o Instituto Butantan passou a realizar pesquisas na área com várias espécies de cobras, principalmente no arquipélago de Alcatrazes, onde ficam as maiores ilhas. O problema é que, em virtude do relevo acidentado, há vários locais que nunca foram explorados.

"Mesmo assim, pode-se fazer uma comparação genérica com outras ilhas que tem muitas serpentes, como a Ilha de Queimada Grande, também no litoral de São Paulo", diz o chefe-substituto da Esec, Gerhard Kempkes.

A Ilha de Queimada Grande é conhecida pela enorme quantidade de cobras, especialmente a jararaca-ilhoa, espécie endêmica da ilha e, segundo alguns cientistas, a serpente mais venenosa do mundo. O Instituto Butantan também faz pesquisas no local.

Desde que a Esec ganhou sede em São Sebastião, em 2001, a equipe do ICMBio, que antes de 2007 era do Ibama, tem atuado na fiscalização da área e mantido um programa de educação ambiental na região.

"Temos organizado também o trabalho de pesquisadores e estamos atuando em um grupo de trabalho em conjunto com a marinha para tentar compatibilizar a necessidade de proteção da área com a necessidade da Marinha, de realizar os seus exercícios de tiro", declara Kempkes.

Segundo ele, pelo fato de a unidade ser marinha (está situada em alto mar, a 40 km do litoral) e de ainda estarem sendo descobertas novas espécies, não há uma contabilidade de cada uma delas, mas garante que são espécies bem raras. Os analistas do ICMBio que atuam na Esec também cuidam da proteção dos peixes, das tartarugas marinhas, dos golfinhos e das baleias.

Fonte: ICMBio