Ave de Rapina
Onça
Cachorro
Cavalo
Gato
Arara

Por amor a uma vira-lata !

Editoria: Vininha F. Carvalho 24/08/2007

Ano passado, pleno inverno, adotei uma cachorra vira lata que estava prenhe. Não suportei ver a criatura pedindo, na porta da cantina da tv, morrendo de medo de todo mundo e louca de fome. Fui ganhando confiança aos poucos, um dia coloquei no carro, levei para o veterinário, tirei carrapato, pulga, dei vacina e trouxe para casa. Ela e seis filhos na barriga.Menos de 20 dias depois, me tornei dona de uma ninhada de cinco machos e uma fêmea, um mais lindo que o outro.

Tem gente que me olhava e ria, tem gente que nem sabia o que dizer, mas gente boa, que ajudou, como a Marisa, que vive socorrendo os bichos maltratados que rodeiam a tve, no morro santa teresa, ou a janice brasil, que me deu uma linda sacola para carregar cachorro, ou o Dudu Vital, que foi comigo buscar mãe e filhos na saída da "maternidade", a Bete, minha vizinha e síndica que cedeu dois coeiros quentinhos para os bebês, e todo mundo que me perguntava, com carinho, pela Docinho.

Sim, é o nome que meu filho (que custou a conquistar a confiança da moça) sugeriu e achamos ótimo.É uma bonita cachorra clara, com pelo de arame, com duas tristes manchas de queimadura de água quente nas costas e que , de início, tinha medo de sair à rua para fazer xixi por, de certo, achar que íamos largar ela de novo, como indigente.

Tem coisas engraçadas: no dia em que vesti nela a roupa que a Wal, namorada do meu filho, deu de presente, ela correu para a porta, com o rabo em pé. Fiquei pensando: será que já teve família legal, um dia, que cuidou dela, vestiu, alimentou e, quem sabe, até foi roubada?

Pois então, o que quero dizer é que Docinho, apesar da trabalheira que deu, trouxe alegria e luz para minha casa. Ainda vou transformar a história dela num livro para crianças.


Com certeza, vou mudar muito o texto. Mas começa assim, "Oi, gurizada:

Esta da foto, aí, toda enfeitada e banho tomado, sou eu mesma. Me chamam Docinho, mas este é um nome que recebi não faz muito, quando minha dona me trouxe para a casa dela. Eu, na verdade, tinha um outro nome e uma outra vida, mas não vou contar nada deste passado para vocês.

Minha história vai começar no primeiro dia em que Ela me viu. O que aconteceu antes, faz de conta que esqueci. O que me importa é o que acontece agora e que acho que vai ser legal contar para vocês.

Como dá para ver, sou uma legítima vira-lata, sem registros como aqueles exibidos cães de raça que têm nome e sobrenome desde que nascem. Não me envergonho de ser assim, pelo contrário. Minha experiência é tão bonita que vale a pena ser conhecida por todos, em especial pelas crianças.

Afinal, não é todo mundo que tem a chance de ter uma nova vida, bem melhor que a antiga. E eu sou destas sortudas, acreditem!


Seis filhotes nasceram no dia de julho de 2006, numa manhã de sol. Cinco machos e uma fêmea. É! De cores diferentes, como vocês podem imaginar: três de pêlo castanho, já nasceram grandões e são muito comilões, dois pretos (olha só o que tem a mancha branca na testa!) um pouco menores que os três de que já falei, e a bem pequeninha, nem sei de que cor ela é, que é meu xodozinho.

Esta filharada toda nasceu numa clínica muito chique, em plena madrugada de um domingo. Eu acho que assustei todo mundo, com minha respiração rápida e minhas escavações no sofá, porque, de repente, quando vi, estava sendo levada num táxi e ouvindo as pessoas falarem que “estava chegando a hora” e que “podia ser perigoso fazer o parto em casa, porque não se sabe o tamanho dos filhotes”.

Eu já tinha estado naquela clínica uns dias antes, quando me levaram para fazer um exame, uma tal de ecografia, para descobrir quando nasceriam os bebês e quantos eles eram.

Afinal, era preciso preparar a casa, porque filho, seja de gente seja de bicho, precisa ser bem recebido. E foi no dia do tal exame que a doutora, que ficou me passando um aparelho que mostrava minha barriga por dentro, que eu soube que apareciam cinco filhotes, mas que algum poderia estar escondido. Tem mais: o parto não ia demorar muito, coisa de uma semana ou dez dias.

Lembro que, enquanto eu esperava, no colo da minha dona, que a tal doutora me atendesse, ia chegando gente com cachorros muito bonitos, alguns até doentes, e todo mundo queria saber de mim. Também! O que fazia uma vira-latas num lugar daqueles, com todo aquele luxo!

A todos, minha mãe adotiva contava a história de como me encontrou e eu só ouvia gente dizendo “ái, coitadinha”. Ou “que bom, agora ela vai ter alguém para cuidar dela”. Pior: alguns tinham até a ousadia de dizer “até que ela é bonita!”. Que desaforo: afinal, só cachorro de raça pode ser bonito? Olha que eu vi entrar um filhote de pug naquela clínica e juro para vocês: jamais trocaria minha carinha de pêlo de arame com sei lá que raça por aquela cara amassada!

Bom. Como eu ia contando, lá no começo, antes de ter esta vida, nesta casa, quer dizer, neste apartamento, eu vivia num lugar bem diferente. Para ser bem, mas bem honesta, eu vivia na rua. Não, não se espantem: tem muito cachorro como eu, que vive mesmo na rua. Como é que eu vivia sem ter uma casa? Vivendo. Pegando sol, pegando chuva, levando xingão das pessoas que não gostam de cachorro de rua, implorando por comida nas portas de bar. Foi assim que ela me conheceu.

Não lembro o dia direito, acho que nem ela. Mas foi naquele mês de julho de 2006. Hoje, tenho até um blog: www.diariodadodo.blogspot.com ".


Lembre-se: 4 de outubro é o DIA NACIONAL DE ADOTAR UM ANIMAL !!!


Fonte: Maristela Bairros

Endereço: